terça-feira, 22 de outubro de 2013

Redação ENEM 2014 -A crise na saúde pública e seus desdobramentos.

                                            
Criado em em uma situação emergencial - sem critérios mínimos- para abafar as manifestações populares em junho de 2013, o programa MAIS MÉDICOS provocou mais uma crise no tão abalado sistema de saúde nacional.
Na verdade, o SUS está abandonado , assim como a população, à mercê de doenças e sem recursos mínimos para cuidar-se com dignidade.
Direitos Humanos???? Zero.
Leia a entrevista do diretor da UNIFESP , um EDITORIAL da Folha de SP. e prepare-se para o ENEM e os vestibulares.


Mais Médicos: criação de vagas em faculdades é promessa eleitoreira, diz diretor da Escola Paulista de Medicina/Unifesp.

Doutor em cardiologia e livre-docente em clínica médica, Antônio Carlos Lopes entrou na graduação da Escola Paulista de Medicina, hoje incorporada à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 1965. Décadas depois, se tornaria diretor da mesma faculdade, considerada referência no ensino médico no Brasil. Costuma dizer que é médico por vocação e docente por circunstâncias. Por quatro anos, coordenou o Departamento de Residência Médica do Ministério da Educação, em Brasília. A experiência o ajudou a desenvolver conceitos bem definidos sobre o ensino da medicina no Brasil, e também sobre a proposta do governo contida no controverso programa Mais Médicos de criar, até 2017, quase 11.500 vagas em cursos de medicinas no Brasil.

O governo federal propôs a criação de novas vagas em faculdades de medicina fora dos grandes centros, uma tentativa de descentralizar a formação. Qual a opinião do senhor a respeito?
 A maioria das faculdades afastadas dos grandes centros não tem condições de manter um curso de medicina. Ao invés de criar novas vagas, ou novas escolas, deveríamos aprimorar as existentes. Na maior parte dessas escolas, incluindo algumas públicas, quem está ensinando deveria estar aprendendo. Já tive experiências de dar aulas em locais assim no passado, onde o ambulatório era uma casa de sapê, com insetos nas paredes. Ambulatórios sem pia, sem banheiro, sem mesa, sem receituário, sem caneta. Só tinha estetoscópio se o médico levasse o dele. Como ensinar medicina para alguém nessa situação?

A proposta do programa Mais Médicos prevê a criação de mais de 11.000 vagas em cinco anos. É um projeto viável? É um absurdo. É uma utopia. É proposta de quem não sabe nada de medicina. Nunca ensinou medicina, nunca pegou na mão de um aluno. Em uma faculdade de direito pode-se ampliar o número de vagas de cinquenta para 100 alunos com facilidade: a turma aprende ouvindo o professor falar ao microfone. Medicina não funciona assim: é preciso leito, preceptor, ambulatório. Precisa ensinar o indivíduo a produzir conhecimento. Propor algo assim é olhar a medicina pela janela do gabinete e querer fazer campanha eleitoreira em cima do médico.

O senhor não acha necessária a criação dessas vagas? Não há necessidade. O que é preciso é infraestrutura. Assim, os médicos poderiam ir ao hospital para trabalhar, e não para ficar lá sentado olhando o paciente sem ter como fazer algo. O que é necessário é a melhoria das condições locais de cidades onde já existem as escolas de medicina. Onde há enfermagem, dentista, terapeuta para cuidar das sequelas do paciente traumatizado. Tudo isso é necessário para uma boa saúde e um bom ensino, seja onde for. O governo quer colocar médico no mercado como se fosse vendedor de alguma coisa. Não tem a menor noção do que é a formação de um médico. Porém, os filhos desses indivíduos, quando ficam doentes, não serão tratados nestes lugares, e sim em hospitais particulares e caros. Nem os políticos que estão em Brasília vão aos hospitais de lá, todos vem para São Paulo. Por quê? Não são bons os hospitais e os médicos que eles estão formando no SUS?

Então, como descentralizar o ensino e a prática da medicina? Primeiramente, existe a necessidade de equipar o local. Ter leitos, ambulatório, o mínimo de infraestrutura. Com isso, os médicos vão para lá com muita boa vontade. Médicos formados adequadamente através de uma faculdade de medicina aberta em um local onde há como ensinar. Não dá para abrir uma faculdade de medicina em qualquer lugar.

Falta de profissionais ou de estrutura: qual o real problema da saúde brasileira? Falta de infraestrutura. Todas as mortes a que assistimos, pessoas aos montes caindo de macas em prontos-socorros, são mortes evitáveis. Quem é o culpado por essas mortes, os médicos? Não são os médicos, é a falta de infraestrutura. Querem expandir vagas, trazer médicos de fora ou levar médicos brasileiros com salários altíssimos para lugares afastados, mas essas ações são inadequadas. É jogar dinheiro público no ralo, pois, sem infraestrutura, o médico não pode fazer nada. É tratar o médico como uma mercadoria. Pagando bem ele vai para um lugar afastado: no entanto, ficará parado, sem ter como agir, pois não tem condições estruturais para exercer a medicina.

Veja online/30/07/2013


58% dos hospitais públicos de SP têm macas no corredor
05 de junho de 2013 | 2h 03          
Fernanda Bassette - O Estado de S.Paulo

Mais da metade dos prontos-socorros públicos do Estado de São Paulo está superlotada - com macas espalhadas nos corredores -, não consegue transferir pacientes para serviços de referência, tem equipes médicas incompletas e não possui um médico responsável pelo plantão.
A situação precária das unidades de saúde foi constatada após fiscalização do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), entre fevereiro e abril deste ano, em 71 unidades (23 na capital e 48 em 35 cidades do interior) em uma única visita a cada uma delas. A amostra representa 10% do total de prontos-socorros do Estado e o critério de escolha foi o tamanho, a localização e as reclamações. Entre os 23 hospitais da capital, 6 são administrados por Organizações Sociais (OSs).
Um terço dos PSs não faz a triagem com a classificação de risco dos pacientes, o que atrasa o atendimento aos doentes realmente graves. Quase 60% das unidades sofrem com a falta de material básico (como jogos de pinça e aspirador elétrico) nas salas de emergência, que estão inadequadas em 30% dos serviços vistoriados.
Para o Cremesp, esse gargalo é reflexo do subfinanciamento da saúde pública e também da falta de uma rede básica de saúde estruturada e resolutiva, em que os pacientes consigam resolver os pequenos problemas de saúde no atendimento primário perto de casa, evitando idas desnecessárias aos hospitais.



 23/07/2013

Deficiências do SUS são graves demais para que governo e classe médica se percam numa disputa infrutífera como a atual
A vocação atávica dos governos petistas para dar mais atenção ao marketing que ao planejamento, de um lado, e o usual corporativismo da classe médica, de outro, conspiram para inviabilizar o que poderia ser uma iniciativa séria para tirar a saúde pública de sua precariedade crônica.
A carência de médicos é uma das graves deficiências do setor. O Brasil tem 1,8 profissional para cada mil habitantes. Não muito menos que os EUA (2,4 por mil), mas a distribuição é péssima: 22 Estados ficam abaixo da média nacional. Estima-se o déficit de profissionais, por aqui, em cerca de 54 mil.
O programa Mais Médicos, lançado às pressas pela presidente Dilma Rousseff como resposta aos protestos de junho, desatou um fluxo hemorrágico de críticas por parte das associações de classe.
A escalada de sintomas atingiu o clímax com o abandono das comissões oficiais por essas entidades e sua anunciada intenção de barrar o programa na Justiça. O prognóstico é deprimente: nenhum governo conseguirá reanimar o combalido SUS (Sistema Único de Saúde) por medida provisória e sem a cooperação dos líderes da profissão.
O Mais Médicos se apoia em dois pilares. O primeiro deles, que começaria a surtir efeito em 2021, iria acrescentar dois anos aos seis do curso de graduação em medicina. O chamado segundo ciclo, a iniciar-se em 2015, seria cumprido obrigatoriamente no SUS.
A reação a esse trecho do programa decorre de certo autoritarismo que o contaminou. Se faz sentido obter retribuição de quem se beneficia do ensino gratuito em universidades públicas, soa abusivo impor essa atuação ao aluno que custeia os próprios estudos, obrigando-o, ademais, a morar em determinada região contra sua vontade.
O outro pilar objetiva suprir as unidades básicas de saúde com profissionais até que a mão de obra do segundo ciclo se materialize. Trata-se do edital para médicos formados no Brasil e no exterior preencherem os postos vagos em 2.868 municípios, metade dos quais sem um único profissional.
As entidades da classe têm sua razão ao dizer que não basta o médico --ele precisa de instalações, auxiliares e medicamentos. Mesmo assim, é melhor ter o profissional presente, ainda que em condições precárias, do que não tê-lo.
Além disso, o governo diz que vai investir R$ 15 bilhões até 2014 para melhorar a infraestrutura de saúde, R$ 5,5 bilhões dos quais em verbas novas para construir 6.000 postos e reformar outros 11,8 mil.
São prioridades corretas para melhorar, no longo prazo, a saúde pública brasileira? É esse tipo de questão que governo e médicos deveriam discutir. O assunto requer amplo debate. Para tanto, Planalto e entidades de classe precisam abandonar a intransigência e chegar a um entendimento.

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